O termo Trombofilias engloba um grande número de doenças e alterações laboratoriais que estão relacionadas com perdas gestacionais repetitivas (abortamento habitual), com crescimento fetal abaixo do esperado (retardo de crescimento intra-útero) e com algumas complicações na evolução da gestação como, por exemplo, a pressão alta relacionada exclusivamente à gravidez (pré-eclâmpsia).
Dentro desse grupo de doenças estão o Lúpus Eritematoso Sistêmico, a Artrite Reumatóide, uma série de doenças imunológicas e do tecido conjuntivo e também algumas alterações laboratoriais que não obrigatoriamente desenvolvem algum problema clínico, como a Mutação no Gene da Protrombina, Mutação nos genes da Metilenotetrahidrofolatoredutase (MTHFR) e Mutação no gene do Fator V de Leiden.
Do ponto de vista prático, todas essas alterações levam a mudanças no sistema de coagulação do organismo, predispondo a paciente a um risco maior de trombose durante a gravidez, com aumento na incidência de abortos repetitivos, maior chance de crescimento fetal inadequado e maior incidência de pré-eclampsia e de outras complicações vasculares.
Na literatura médica, ainda são doenças e alterações (algumas) pouco conhecidas e com muitas dúvidas e controvérsias sobre sua real incidência e importância e sobre as condutas a serem tomadas.
Durante a gestação há certo consenso que a anticoagulação precoce com Heparina ou, preferentemente, com Heparina de Baixo Peso Molecular, melhora em muito o resultado da gravidez. Há descrição na literatura de que algumas pacientes necessitam de anticoagulação com baixas doses já no período ovulatório para prevenção de abortos precoces.
Também há bastante controvérsia em relação ao período que se deve interromper a medicação. Seguimos no consultório a orientação de publicações médicas internacionais e temos observado ao longo dos anos que, mesmo após a interrupção da medicação, o crescimento fetal, o volume de líquido amniótico, a maturidade placentária e a circulação útero-placentária e fetal se mantêm normais.
A literatura médica também preconiza que no pós parto imediato essas paciente sejam novamente anticoaguladas para prevenção de trombose venosa e tromboembolismo pulmonar.
Para as pacientes com trombofilia, a longo prazo, há limitação no uso de contraceptivos hormonais combinados e necessidade de anticoagulação em caso de viagem aérea longa (mais que 8 horas de voo) e em situações de imobilização prolongada (grandes cirurgias e traumatismos extensos).